É incontestável o impacto emocional que a pandemia teve na população brasileira. Em meio a grandes insatisfações com a forma com a qual o governo levou a pandemia, a perda de familiares e amigos, e o isolamento social, o dado que temos do UOL é que cerca de 40% dos brasileiros sentiram tristeza ou depressão durante esse período. A professora Marilisa Barros da Faculdade de Medicina da Unicamp conduziu pesquisas importantíssimas sobre os efeitos que o avanço da doença tiveram no emocional dos brasileiros, e a diminuição ou perda total da renda foi um dos fatores que, principalmente para pessoas com histórico de depressão, piora ainda mais a situação emocional durante esse período.
Em uma outra reportagem da Marcela Koitat no Catraca Livre, a nutricionista fala como tudo o que tem acontecido tem alterado a nossa rotina. De fato, trabalhar de casa e não ter mais momentos de lazer com amigos no fim de semana torna o delivery e cozinhar momentos de prazer e felicidade. Tendo mais tempo para pensar nas refeições e a facilidade de ter a cozinha com uma infinidade de opções há poucos passos aumenta a quantidade de coisas que comemos e, consequentemente, se reverte em alguns quilos a mais.
Mas uma das mensagens importantes que Marcela deixa é o quão importante é entender que estamos num momento de fragilidade, numa situação em que o número de pacientes com queixas de estresse, ansiedade e depressão aumentou para além do esperado, e manter a saúde mental é uma das grandes prioridades.
“Comparado a todos os riscos que o contexto atual oferece, ganhar uns quilinhos a mais nem pode ser visto como o menor dos problemas: na verdade, nem um problema é. Seja gentil com o seu próprio corpo. Não deixe que as mudanças de rotina, já difíceis por si só, façam com que você restrinja sua alimentação e se desconecte dele.”
Em outra matéria, de Duda Gomes para a Veja, é discutido também a compulsão alimentar, um resultado da rotina alterada, ansiedade, reclusão e finanças incertas, e trabalho em casa. Essa foi uma das maiores causas que levou mais de 50% dos brasileiros a ganhar peso na quarentena, comer excessivamente e depois sentir culpa. É importante frisar o quanto esses episódios de compulsão alimentar estão ligados às questões psicológicas, e que, como a Marcela Koitat citou, é necessário entender também, o momento em que estamos antes de se julgar ou tomar decisões precipitadas em relação a isso.
Esse tem sido um assunto que veio bastante a público durante a quarentena. Principalmente em redes sociais, campanhas de conscientização e compartilhamento de histórias sobre pessoas que têm ou tiveram compulsões alimentares e tem usado esse tempo a mais em casa para melhorar a relação com a comida ganharam espaço e compartilhamento. Não obstante, é importante observar se ele tem sido acompanhado também de outras atividades tão nocivas como a compulsão alimentar. Nutricionistas e demais profissionais da área alertam sobre a importância de sair da compulsão alimentar mantendo uma boa relação com a comida, sem demonizá-la, como falado pelo Victor Machado em sua matéria para o UOL. O padrão de exercícios agressivos e restrição de grupos alimentares nas refeições de forma alguma ajuda a situação, muito pelo contrário, estimula ainda mais outro episódio compulsivo e inverte a situação mantendo a mesma relação ruim com a alimentação.
O situacional a ser considerado não depende só, também, do emocional. A fragilidade que o isolamento de relações sociais traz é inegável, mas atrelado a isso, a insegurança alimentar, bastante comentada no blog também, deve ser adicionada ao cálculo. As movimentações do governo trouxeram prejuízos absurdos para o preço de uma alimentação básica, bem como instituiu uma qualidade de vida no Brasil que decaiu muito em relação aos últimos anos, como visto pela pesquisa da UFMG comentada pela CNN. Questões como essas são as que estão levando milhões de brasileiros a se sentirem inseguros e descontarem em maus hábitos como fumar, aumentar o tempo de tela e trocar refeições importantes por lanches e delivery numa forma de tentar fazer se sentir melhor.
A indicação é sempre a busca por um profissional e acompanhamento. O ganho de peso atrelado a questões emocionais ou através de um episódio compulsivo, pede por um cuidado especial e a análise mais cuidadosa do processo. O maior objetivo é voltar a ter uma relação saudável com a comida, mas esse é um caminho que exige paciência, autoconhecimento e entrar em paz com a sua situação atual.
Busque sempre o que te deixa mais em paz e foque na sua saúde!
Um texto super interessante, Yasmin! É complicado compreender nossa relação com a comida no contexto da pandemia. Acredito que, assim como você descreveu, a alimentação passou a ser uma das válvulas de escape para todo o contexto de ansiedade e frustração em que vivemos. Não podemos nos esquecer de que a alimentação não foi o único caminho encontrado por uma parcela da população para aliviar suas preocupações, podemos ver, mesmo em outros textos disponíveis nesse blog, como o abuso de substâncias também passou a ser mais recorrente.
No mais, é interessante notar a dualidade que o Brasil vive no contexto da alimentação durante a pandemia. Enquanto, como você descreveu, uma parcela dos brasileiros passou a consumir mais alimentos do que antes, muitas famílias, em função da vulnerabilidade socioeconômica, passaram a restringir sua alimentação.