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World Mosquito Program e a Dengue: Como a cooperação de saúde internacional pode solucionar um dos maiores problemas de saúde brasileiro, de Júlio Adrião D’Angelo

18 novembro 2021

World Mosquito Program e a Dengue: Como a cooperação de saúde internacional pode solucionar um dos maiores problemas de saúde brasileiro, de Júlio Adrião D’Angelo

É evidente o problema de saúde pública causado pela dengue no Brasil. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, por Maurício L. Barreto e Maria Glória Teixeira, o mosquito Aedes aegypti, o vetor da dengue, encontra-se disseminado por praticamente todo o território nacional, bem como três dos quatro sorotipos existentes do vírus (DENV-1, DENV-2 e DENV-3). De acordo com o mesmo estudo, o quadro epidemiológico tem se caracterizado como epidemias recorrentes, mais visível nos grandes centros urbanos. Ademais, as ações usadas para conter as epidemias, focadas no combate aos focos de reprodução do mosquito, não tem se mostrado eficazes e com o passar dos anos, as epidemias se intensificam, inclusive aumentando o número de casos graves na população brasileira.

Todavia, uma iniciativa não-lucrativa fruto da cooperação internacional pode ter encontrado uma solução para esse problema: o World Mosquito Program (WPO). Essa iniciativa já está presente em 11 países (Austrália, Brasil, Colômbia, Fiji, Indonesia, Kiribati, México, Nova Caledonia, Sri Lanka, Vanuatu e Vietnam) e através do chamado método Wolbachia, pode ter encontrado uma maneira de erradicar as epidemias de doenças causadas pelo Aedes aegypti.

No Brasil, a execução do Método Wolbachia criado pela WPO é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com os governos locais. As cidades que hoje participam desse projeto são: Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE).
Mas no que consiste o método Wolbachia? Essa técnica surgiu a partir dos estudos de Marshall Hertig, que em 1936 descobriu uma bactéria, hoje nomeada Wolbachia, que não se reproduz sem a ausência de um hospedeiro – em sua maioria, insetos – se comportando semelhantemente a um vírus, apesar de não causar malefícios ao seu hospedeiro. Uma outra característica específica é a de que insetos fêmeas que carreguem a Wolbachia sempre passarão sua infecção para todos os descendentes, além de que insetos machos infectados não são capazes de infectar seus descendentes caso cruzem com fêmeas não infectadas. Dessa forma, uma população de insetos acabará por, ao longo de gerações, aumentar gradativamente a quantidade de indivíduos infectados.

O ponto chave para a maneira como o método Wolbachia pode acabar com a dengue está relacionado com o fato de seu comportamento se assemelhar ao de um vírus. Dessa forma, quando no mesmo hospedeiro, o vírus e a Wolbachia passam a competir e, em geral, ela sai vitoriosa. Com todo esse conhecimento em mente, a WPO criou assim mosquitos Aedes aegypti que carregassem a bactéria e que, uma vez soltos em uma população que carregasse o vírus da dengue, ao longo de gerações, reduziria o contágio de dengue na sociedade que ali vive.

Testes como esse já foram executados na cidade de Yogyakarta, na Indonésia. Esse estudo, realizado pelo Applying Wolbachia to Eliminate Dengue (AWED) Study Group, concluiu que a introdução desses mosquitos infectados pela Wolbachia foram capazes de reduzir a incidência de dengue sintomática e reduzir a quantidade de hospitalizações na população.

Nesse sentido, vê-se mais um possível caso de sucesso na cooperação internacional para com a Saúde Global, de modo que, inovações fruto de testes conduzidos na Indonésia por cientistas de diferentes nacionalidades podem ser a solução para um problema de saúde pública brasileira que há anos se intensifica. É diante de casos como esse em que reitera-se o sentido da OMS e da cooperação para com a saúde no globo, reforçando o que Constituição da OMS estabelece: “A saúde de todos os povos é essencial para conseguir a paz e a segurança e depende da mais estreita cooperação dos indivíduos e dos Estados.”

Referências:

https://www.scielo.br/j/ea/a/7FKpQj7MLZ7WbcGtfccxZrd/?lang=pt

http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html

https://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT03055585

https://www.worldmosquitoprogram.org/en/work/about-us

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2030243

https://www.karger.com/Article/Pdf/104228

https://www.worldmosquitoprogram.org/sobre-o-metodo-wolbachia

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