Andar pelas ruas de uma cidade grande como São Paulo não sendo natural desse lugar faz reparar em duas coisas sobre a vida que as habita.
A primeira delas é a gente que atravessa essas ruas. Especialmente e infelizmente, muita gente com pressa, fome, medo, frio, cansada ao ir e mais ainda ao voltar do trabalho. Uma cortante tensão que se agravou com a pandemia, com a crise econômica e o desgoverno de Bolsonaro, óbvia nos pontos mais movimentados da cidade.
A segunda delas, o que pode parecer cômico para quem se acostumou demais com essas ruas, são os pássaros. As pombas (grandes) têm medo de pisar e de voar, comendo restos e sempre que oportuno a alguém, sendo chutadas para um outro canto. Não é segredo que uma população de pombas da proporção que a cidade de São Paulo abriga pode representar um risco sanitário grave para as pessoas, mas isso nada tem a ver com a linha de pensamento que tento aqui chamar a atenção para. A pomba é, sob o olhar impressionado de alguém que busca entender seus pequenos (ou grandes) desafios, um bicho que arranjou um jeito de sobreviver na cidade e nas ameaças que esse espaço representa para ele.
A charge publicada pela Folha de São Paulo, de Adão Iturrusgarai, faz pensar sobre qual vida é imposta a essa gente que caminha pela cidade. Não é segredo que o povo brasileiro tem desafios pela frente, assim como já teve em sua história. Mas andar com pressa, comendo o pouco que o salário muitas vezes curto é capaz de comprar e, sempre que oportuno ao seu próprio governo, sendo chutado para outro canto – é um estilo de vida com o qual o povo parece estar começando a se acostumar, e não deveria.
Enviado por Isabela Leiva Rosa
Que metáfora certeira, Isabela! O quando um simples animal, que praticamente não enxergamos – porque ignoramos – no dia a dia pode nos dizer sobre o caos de São Paulo. Na hora, me lembrei dos ratos em Nova Iorque. Metrópoles e seus animais doentes – nós?
Bela escrita, parabéns!