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O problema do dirty cooking na pandemia, de Julio Macedo Yamamoto

18 novembro 2021

O problema do dirty cooking na pandemia, de Julio Macedo Yamamoto

A pandemia trouxe diversas mudanças nos hábitos cotidianos de todo o mundo, com as pessoas passando mais tempo em casa, dado as políticas de Lockdown, que apesar de variar entre os países e por conseguinte variarem nos resultados, convergem em alguns pontos, como o fato de que as pessoas passaram a realizar maior parte suas refeições em casa, enquanto pessoas com mais poder aquisitivo podiam optar por pedir a sua refeição por delivery ou se aventurar na cozinha, as pessoas com menos poder aquisitivo tiveram que contornar as altas do preço dos alimentos e dos combustíveis, e um dos substitutos para o gás de cozinha é a lenha, que a primeira vista parece inofensiva, todavia traz riscos a saúde, visto que, caso a lenha não tenha uma qualidade boa, ela pode gerar uma poluição toxica para as pessoas do lar, essa pratica é conhecida como Dirty cooking.

Segundo a World Health Organization cerca de 2.6 bilhões de pessoas usam para cozinhar fogueiras ou fogões abastecidos por querosene, biomassa (madeira, esterco e resíduos agrícolas) e carvão esses combustíveis geram uma poluição do ar domestico que acaba resultando em doenças pulmonares ou problemas cardíacos, que resultam em cerca de 4 milhões de mortes prematuras por ano, esses dados são anteriores a pandemia, ou seja, o Dirty Cooking já era um problema enfrentado antes do Covid.

No estudo de caso feito por Yabel Zhang e Zijun Li para o Wordbank, no qual elas analisaram o Quênia, mais especificamente sua área rural, elas constataram que com o advento da pandemia ocorreram 2 principais mudanças na cozinha da população queniana, os tipos de comida cozinhada mudaram, dado o aumento do preço dos alimentos, os lares passaram a optar por comidas advindas do cultivo próprio, a outra mudança foi no tempo gasto na cozinha e na quantidade de comida, que aumentaram com a pandemia, visto que mais membros do lar passaram a ficar em casa dado o lockdown, além desses pontos o estudo ressalta o aumento do preço dos combustíveis que fizeram com que a população buscasse meios mais antiquados para cozinha como o uso de biomassa, que adjunto ao aumento do tempo gasto no preparo dos alimentos, resultam no maior contato com as poluições causadas pela queima desses combustíveis.

Além da intoxicação, existe um outro perigo no Dirty Cooking , as queimaduras, por conta do manuseio desses combustíveis alternativos. Numa entrevista a BBC, o médico Marcos Barreto, ressalta que existe uma relação direta entre o aumento recente da pobreza e mais queimaduras, já que esses combustíveis alternativos ao gás de cozinha, não apresentam um botão de desligar.

“Você quase não enxerga o fogo azulado do álcool. Quando vai reabastecer, porque acha que o fogo acabou, ocorre o acidente.” – Marcos Barreto em entrevista a BBC.

Como vimos o Dirty Cooking se mostrou um problema no passado e agravado durante a pandemia, e segundo um artigo da Shonali Pachauri para a revista Nature, o Dirty Cooking vai continuar sendo um problema nas próximas décadas. Nesse artigo ela realizou projeções em que levava em conta mudanças sociodemográficas, politicas para mitigar a mudança climática e a recuperação econômica pós covid e esses cenários convergem no fato de que que até o ano de 2050 a meta de acesso universal a cozinha limpa não seria atingido, e além disso um cenário em que ocorra uma recessão econômica pós covid, resultaria no atraso dessa meta.

Existem medidas que governos estão tomando para aumentar o acesso ao Clean Cooking, países como o Brasil, India e Indonesia são exemplos, através de subsídios, mas esses subsídios podem se tornar um peso fiscal, para evitar isso a autora sugere realizar campanhas como a “Give it up” do governo Indiano e direcionar fundos climáticos e verdes e receitas obtidas através de credito de carbono podem ser uma forma de financiar esses projetos.  

            O Dirty Cooking é um problema invisível que se agravou na pandemia, por conta do lockdown e da recessão econômica, e traz consequências graves para a saúde, e visto que vai ser um problema que vai se estender por décadas é necessário um estudo de formas para mitigá-lo e adiantar o acesso ao Clean Cooking.

Referencias

Pachauri, S., Poblete-Cazenave, M., Aktas, A. et al. Clean cooking access may stall under slow post-pandemic recovery and ambitious climate mitigation without explicit focusNat Energy 6, 1009–1010 (2021). https://doi.org/10.1038/s41560-021-00939-x

WHO. Household air pollution and health. 2021. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/household-air-pollution-and-health. Acesso em: 16 nov. 2021.

ZHANG, Huanjia. Fuel price spikes, pandemic recovery may push clean cooking goals out of reach: Study: it is simply unfair and unequal. It is simply unfair and unequal. Disponível em: https://www.ehn.org/clean-cooking-indoor-air-pollution-2655495201.html. Acesso em: 16 nov. 2021.

Zhang, Yabei; Li, Zijun. 2021. COVID-19’s Impact on the Transition to Clean Cooking Fuels : Initial Findings from a Case Study in Rural Kenya. Live Wire;2021/115. World Bank, Washington, DC. © World Bank. https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/35258 License: CC BY 3.0 IGO.

COMO POBREZA AGRAVA TRAGÉDIA ‘INVISÍVEL’ DE ACIDENTES COM QUEIMADURAS NO BRASIL. São Paulo, 31 out. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59018221. Acesso em: 16 nov. 2021.

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