As mulheres, principalmente aquelas em situação de vulnerabilidade econômica, constituem o grupo mais afetado pelo vírus Zika (transmitido pelo mosquito Aedes aegypti – mesmo vetor da dengue e chikungunya). O caráter congênito da doença resulta na transmissão vertical da infecção de mulheres grávidas para fetos, que desenvolvem lesões no sistema nervoso, incluindo a microcefalia. A falta de orientação para mulheres e gestantes e a falha em prover assistência e acompanhamento durante e após a gestação de crianças com a síndrome constituem alguns dos exemplos da insuficiência do Brasil em garantir os direitos sexuais e reprodutivos dessas mulheres. O combate à doença no país tem sido ineficaz em traçar planos de longo prazo e estruturais, focando em soluções mais imediatistas, como a guerra ao mosquito. Esta notícia trata de constatações da ONU quanto à epidemia de Zika no Brasil e apresenta orientações quanto às políticas direcionadas a mulheres.
Enviado por Jéssica Vaitanan
Os gastos mais expressivos na “guerra ao mosquito” do que na orientação adequada das mulheres expostas ao vírus mostram como as prioridades estão invertidas: em vez de se consolidar e ampliar os investimentos em saúde, saneamento básico e estrutura, no geral, prioriza-se uma solução mais imediatista, como a Jéssica afirma. Como consequência as pessoas mais pobres (com destaque para mulheres gestantes) são as mais afetadas, o que, a meu ver, reafirma a importância do combate à desigualdade social também para a área de saúde.
Sem dúvida Camila! A infecção pelo Zika vírus se encaixa, infelizmente, no conceito de “doença da pobreza” e doença negligenciada (realidade muito bem explicitada por João Nunes e Denise Pimenta em “A Epidemia de Zika e os Limites da Saúde Global”). O poder público se mostra incapaz de solucionar problemas infraestruturais que corroboram para a proliferação da doença e, do mesmo modo, falha em prover assessoria àqueles que são infectados. Nessa lógica, a mulher de baixa renda encontra-se na pior situação possível: faz parte do grupo de risco na contaminação pelo vírus; na maioria dos casos não possui acesso a métodos contraceptivos; ao engravidar não possui domínio sobre seu corpo e não pode decidir pela interrupção da gravidez mediante os efeitos incertos do vírus Zika no feto; ao dar a luz a uma criança com microcefalia não possui suporte público e muitas vezes são mães solteiras, devendo lidar por conta própria com todos os desafios e cuidados que a criança demandará.
Todos esses pontos já contradizem diretamente os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Além disso, diversas autoridades de saúde sugeriram, por exemplo, adiar a gravidez ou uso de preservativos, sem considerar que muitas das gravidezes não são planejadas ou não se possui acesso a métodos contraceptivos. Então, de fato, o combate à epidemia demanda uma resposta muito mais profunda e intersetorial do que a que vem sido adotada.
Caso tenha interesse no texto que citei acima, segue link: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64452016000200021&script=sci_abstract&tlng=pt